missa-papaPapa fala sobre normas e profecias

Da Redação, com Rádio Vaticano
Foto: L’Osservatore Romano

Francisco explicou que a Igreja e o cristão não devem se fechar num sistema de normas, mas se abrirem para o dinamismo da profecia

Na Missa celebrada na casa Santa Marta, nesta segunda-feira, 30, o Papa comentou o Evangelho do dia e fez uma reflexão sobre normas e profecias.

Francisco disse que, em seu caminho de fé, a Igreja e todo cristão devem cuidar para não se fecharem num sistema de normas, mas abrirem espaço para a memória dos dons recebidos por Deus, ao dinamismo da profecia e ao horizonte da esperança. Ele explicou que a estrutura da lei delimita tudo e o sopro libertador da profecia impulsiona para além dos confins.

“Na vida de fé, o excesso de confiança na norma pode sufocar o valor da memória e o dinamismo do Espírito.”

Jesus, no Evangelho do dia, explicou o Papa, demonstra esse assunto aos escribas e fariseus com a parábola dos vinhateiros homicidas. Os agricultores resolveram se revoltar contra o patrão que plantou e arrendou a vinha para eles, espancando e matando os empregados que o patrão enviava para receber a sua parte dos frutos da vinha. O cúmulo do drama ocorreu quando mataram o único filho do patrão, pensando que herdariam toda a propriedade.

Casuística e liberdade

Francisco disse que matar os empregados e o filho, imagem dos profetas da Bíblia e de Cristo, mostra a imagem de um povo fechado em si mesmo, que não se abre às promessas de Deus nem as espera.

“Um povo sem memória, sem profecia e sem esperança”. Já aos chefes do povo, disse o Papa, interessa erguer um muro de leis, um sistema jurídico fechado e nada mais.

“A memória não interessa. A profecia: melhor que não venham os profetas! E a esperança? Cada um irá ver. Esse é o sistema com o qual eles legitimam: doutores da lei, teólogos que sempre caminham na estrada da casuística e não permitem a liberdade do Espírito Santo. Não reconhecem o dom de Deus, o dom do Espírito, e engaiolam o Espírito, porque não permitem a profecia na esperança.”

A memória liberta

O Papa explicou que o próprio Jesus é tentado a perder a memória da sua missão, de não dar lugar à profecia e de preferir a segurança à esperança, isto é, a essência das três tentações que sofreu no deserto.

“Por conhecer a tentação, Jesus repreende essas pessoas: ‘Vocês percorrem o mundo para fazer um prosélito, e quando o encontram, fazem-no escravo’. Esse povo assim organizado, essa Igreja assim organizada faz escravos! E assim se entende como Paulo reage quando fala da escravidão da lei e da liberdade que a graça oferece. Um povo é livre, uma Igreja é livre quando tem memória, quando dá lugar aos profetas, quando não perde a esperança.”

Coração aberto ou engaiolado?

A vinha bem organizada, destacou o Papa, é a imagem do povo de Deus, a imagem da Igreja e também a imagem da nossa alma, que o Pai cuida sempre com tanto amor e tanta ternura. Rebelar-se a Ele, como para os agricultores homicidas, é perder a memória do dom recebido por Deus. Para recordar e não errar no caminho, é importante voltar sempre às raízes.

“Eu tenho memória das maravilhas que o Senhor fez na minha vida? Tenho memória dos dons do Senhor? Eu sou capaz de abrir o coração aos profetas, isto é, a quem me diz ‘assim não dá, tem que ir para lá; vai avante, arrisque’? É o que os profetas fazem… Eu estou aberto a isso ou sou temeroso e prefiro me fechar na gaiola da lei? E por fim: eu tenho esperança nas promessas de Deus, como teve nosso pai Abraão, que saiu da sua terra sem saber para onde ir, somente porque acreditava em Deus? A nós fará bem fazer essas três perguntas.”