Por que batizar o bebê e não esperar que ele(a) escolha quando for maior?
Por Julio De La Vega Hazas via Aleteia
Por que é melhor para batizar uma criança ainda bebê? Não é melhor que ela mesma “escolha” quando crescer? (Pergunta via FB)
A questão é importante, porque se trata de uma crítica que é bastante difundida. A resposta aborda dois aspectos, um antropológico, ou seja, sobre quem e como é o ser humano; e outro especificamente cristão.
Sobre o primeiro, hoje em dia é comum encontrar uma visão fortemente individualista do homem, cujo ideal é o homem autônomo, que faz e decide tudo sozinho. Isso tem consequências na educação, pois se busca não incutir uma moral, e nem mesmo o sentido das coisas. O construtivismo, como é chamada essa tendência na educação, pretende limitar-se a fornecer informações para que a criança dê um sentido próprio ao que vê, e vá selecionando as suas próprias convicções, inclusive éticas. Cada um faria o seu próprio sistema de valores. Pode parecer uma teoria atraente, mas na realidade é insustentável. Os seres humanos precisam aprender, e não apenas uma informação “bruta”, mas o sentido que as coisas têm. E precisam aprender a se comportar, não apenas na teoria. Portanto, precisam ser educados. Pela própria natureza, os primeiros e principais responsáveis pela educação são os pais. E nenhum pai vai até a criança e lhe diz para parar de responder “obrigado” quando lhe dão algo, argumentando que a gratidão é um valor ético que ela deverá escolher para si quando for mais velha.
Não se espera que se torne adulto para incutir essas virtudes, simplesmente porque não se pode esperar. Seguindo o exemplo anterior, se você esperar, quando essa criança for mais velha, verá que ela já se tornou uma ingrata difícil de mudar. O exemplo foi colocado de propósito, porque é isso que muitas vezes experimentam os pais que, por qualquer razão, abdicaram de educar os seus filhos: o filho não mostra a menor gratidão a seus pais por terem lhe dado a vida nem por e todos os esforços e sacrifícios que fizeram por ele. Não há, neste caso, possível neutralidade, também não há no que se aprende: ou Hitler foi um fenômeno que não desejamos, ou as suas ideias são só mais uma opção possível.
A fé católica tem algo importante para contribuir nessas considerações. A verdade é que todos nós sabemos que fazer o bem requer esforço, enquanto que para fazer o mal basta se deixar levar. O homem não é nem anjo, nem demônio, isso está claro. Mas, em sua humanidade, tem uma certa deterioração, sem for impedido de fazer o bem, muitas vezes se inclina para o mal. Isso é fácil de ver, mas não de explicar. A explicação dada pela fé é chamada de pecado original. Não é um pecado no sentido usual da palavra, mas as consequências negativas da rejeição hereditária que o homem fez a Deus no início de sua existência (usando termos modernos, esse pecado consistiu em querer total autonomia de Deus).
A primeira razão para batizar uma criança é que o Batismo suprime o pecado original. É verdade que não acaba com todas as suas consequências, pois essa tendência para o mal persiste, mas o Batismo as amortece e, abrindo a porta para a graça divina, faz com que seja possível ter alguns meios eficazes para superá-lo.
Quando se fala de adiar o Batismo até uma idade em que a criança possa escolher, estamos implicitamente incluindo a recusa de educar na fé, que é algo que se exige dos pais como requisito indispensável. E já se mencionou aqui que a neutralidade é utópica. Se os pais abrem mão de transmitir aos filhos as suas convicções, acabam descobrindo que outros com menos escrupulosos fizeram isso no seu lugar. Ninguém está em uma posição neutra, livre de influências, e também as crianças precisam de modelos humanos para seguir. Se elas não encontrarem em casa, vão olhar para fora. Com essa atitude, o que os pais têm feito é deixar a criança vulnerável a qualquer grupo ou ideologia religiosa, alguns dos quais não são nada recomendados, por sinal.
Qualquer pai e mãe não desnaturados buscam o melhor para seus filhos. O Batismo faz da pessoa que o recebe um filho de Deus e dá a graça – exceto perante a rejeição voluntária –, que leva para o céu. Para alguém com uma fé genuína, você não pode encontrar algo melhor para dar à criança. Quando isso não for feito, os pais teriam que ver se sua fé é realmente uma convicção, ou apenas uma mera opinião, com pouco impacto em sua vida. Eles também devem ver se sabem o que significa o Batismo, que é algo que vai muito além de uma cerimônia de iniciação na Igreja.
Quase tudo discutido aqui pode ser encontrado resumido no número 1.250 do Catecismo da Igreja Católica, que se expressa nos seguintes termos: “nascidas com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original, as crianças também têm necessidade do novo nascimento no Batismo para serem libertas do poder das trevas e transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus, a que todos os homens são chamados. A pura gratuidade da graça da salvação é particularmente manifesta no Batismo das crianças. Por isso, a Igreja e os pais privariam, a criança da graça inestimável de se tornar filho de Deus, se não lhe conferissem o Batismo pouco depois do seu nascimento”.
Mas a fé não deve ser acolhida livremente? Sim, claro, mas um simples olhar para a realidade indica que o Batismo não impede isso: a pessoa continua sendo livre para aceitar ou rejeitar a fé. O Catecismo menciona a liberdade dos filhos de Deus, o que a este propósito significa que o Batismo proporciona uma ajuda sobrenatural para que as decisões estejam menos influenciadas pelas consequências do pecado original – essa tendência a nos deixarmos levar pelo que não é bom – com a qual todos viemos ao mundo.
Coletado do site www.noticiascatolicas.com.br