Rosto paterno
Por Dom José Alberto Moura, Arcebispo de Montes Claros (MG)
É difícil falar de Deus na nossa linguagem humana. Mas, chamar a Deus de Pai, foi o próprio Filho, mandado por Ele, com forma ou natureza humana, que nos ensinou a chamá-lo assim. Apesar disso, temos também, na figura feminina, o modo humano de chamarmos e termos as qualidades divinas também maternas.
Deus é superior à nossa modalidade de nos relacionarmos com Ele. Mas, em nossos limites, apesar de filhos, por dádiva de filiação adotiva, temos na figura do pai uma relevância muito importante na formação da família. Muitos querem, dentro do naturalismo, relativizar de modo excessivo, a importância do pai. No entanto, seu papel é intimamente exercido para a formação da personalidade dos filhos, a ponto de lhes dar segurança afetiva, social e exemplar educação deles, juntamente com a esposa. Isso é um dado da natureza da família, que, bem desenvolvida, coloca as bases da formação do caráter e da sustentabilidade do equilíbrio humano-afetivo de todos na família. Quando a paternidade é bem exercida, temos chance de boa imitação e orientação de filhos saudáveis.
O rosto paterno de Deus se mostra aos filhos que somos, de modo amoroso e compassivo, a ponto de termos nele a segurança total de vida bem encaminhada e de felicidade plena para todos. Ele nos criou para sermos sua imagem e semelhança. Nosso esforço para seguir suas instruções e também o imitarmos para amar e construir a vida de convivência humana, leva-nos a desenvolver muitas virtudes. Dentre elas se destacam a compaixão, a misericórdia, a promoção da justiça e do bem comum. Com isso seremos recompensados já aqui na terra, e, depois, com o prêmio eterno. Nosso desafio é aceitar a paternidade divina com correspondência ao amor de Deus.
Quando realmente fazemos a experiência de intimidade do amor divino, tornamo-nos pessoas que também mostram a face amorosa de Deus para o semelhante. Os outros nos vêem como pessoas do bem, com colaboração para um convívio de promoção do semelhante, a partir de iniciativas de inclusão social, do interesse por ajudar quem é mais carente social, econômica e espiritualmente. Desta forma, comportamo-nos como gente altruísta e de colaboração com a promoção humana, com o serviço ao bem comum e solidária com a causa dos mais fragilizados, como o próprio Deus é misericordioso conosco, qual pai do filho pródigo.
Na conversa com Abraão Deus prometeu-lhe não destruir as cidades de Sodoma e Gomorra se encontrasse nelas ao menos dez pessoas de bem. Mas só encontrou o sobrinho dele, Lot, com a mulher Sara (Cf. Gênesis 18,20-32). Deus quer nosso bem e que nos salvemos da vida sem sentido e tenhamos depois a recompensa. Mas precisamos fazer da cidade terrestre um convívio conforme o projeto divino. Ele a todo momento nos adverte, em nossa consciência, através de pessoas de boa consciência, de sua Palavra e de sua Igreja, a assumirmos os valores inerentes às leis próprias da natureza e os revelados por seu Filho. Ele nos mostra a face do Pai.
O que em nós ainda não se amoldar com o projeto do Pai, é sepultado e mudado pelo batismo, que nos faz limpos espiritualmente e nos torna parecidos com Ele para vivermos a vida convertida para o amor (Cf. Colossenses 2,112-14). Somos santificados por Ele, que é santo e nos faz inserir em seu Reino. Assim, superamos a tentação de vivermos somente pensando em nós egoisticamente, com as consequências de pecado e iniquidade. Somos convertidos para uma vida santificada e de promoção do bem de todos, conforme o próprio Jesus nos ensina no “Pai nosso” (Cf. Lucas 11,1-13).