Uma nova forma de liderar
Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, via Canção Nova
As instituições nos diferentes segmentos gritam por líderes com estatura para suprir suas necessidades. E essas demandas são muitas. Relacionam-se a metas, funcionamentos e procedimentos. À enorme lista de exigências, acrescentam-se ainda certas características das instituições: o custo, o peso e a incidência sobre a realidade. Todas essas variáveis indicam, de um modo geral, que é complexo o desafio de mudar as instituições. Elas são, como define o dito popular, “um pesado piano” que, por vezes, é empurrado com grande força, mas não sai do lugar. Consequentemente, experimenta-se um sentimento de frustração, desgaste e desânimo que empurra na direção da desistência ou do habituar-se à mediocridade. Uma situação que leva a sucateamentos e promove a perda de oportunidades que poderiam gerar importantes transformações.
Diante das dificuldades, urgente e desafiador é verificar processos para aperfeiçoar a utilização de recursos, particularmente investir na gestão de pessoas. Torna-se fundamental também acabar com certas “cargas pesadas” que estão fora do território da identidade do povo, da cultura e que apenas estreitam horizontes, atrapalham funcionamentos e mantêm loteamentos. Esses pesos ajudam a configurar um pensar pequeno que serve apenas para confirmar hegemonias do passado, com narrativas sobre fatos, momentos da história e reverências a líderes autoritários, responsáveis inclusive pelos atrasos. Pessoas que, um dia, favoreceram alguém somente para manter sob seu domínio os favorecidos.
É fácil detectar essa realidade quando se observa aqueles que não evoluem, apegam-se ao passado e não são capazes de perceber que se vive outro tempo. Até as conversas e a linguagem, além das posturas e a manutenção de afazeres que já são ultrapassados, revelam a mediocridade que impede o surgimento de novos líderes. As instituições pesadas hibernam com pessoas que não evoluem e, gradativamente, morrem por não conseguir se renovar. Esse peso torna-se ainda mais grave no contexto da dinâmica cultural contemporânea, marcada pela multiplicidade, velocidade e exigência de leveza. E a mudança das instituições depende, fundamentalmente, de seus líderes. Formá-los é exigência prioritária.
Para isso, deve-se cultivar a competência para o diálogo, pré-requisito primordial para ser bom gestor. Não lidera quem não dialoga. Em vez disso, arruína o que dirige e não consegue encontrar soluções. Dialogar como exercício primordial dos líderes não é artimanha espúria para negociatas. Trata-se de sabedoria que ampara a competência de discernir, de se fazer presente e próximo das muitas discussões que definem a agenda global da sociedade. É ser capaz de agregar, com paciência, muitas pessoas, inclusive as com opiniões divergentes para gerar consensos e, assim, oxigenar instituições. Desse modo, o líder estimula a inclusão participativa, a adesão a projetos que promovem melhorias no âmbito institucional e na sociedade.
Dialogar com pessoas próximas e com diferentes segmentos é competência indispensável, ainda mais para quem busca exercer liderança. Além disso, importa muito a realização de diagnósticos que considerem a complexidade social, a intuição inteligente na criação de iniciativas indispensáveis para alcançar os objetivos próprios das instituições, que são desafiadas a colaborar e a cumprir suas responsabilidades sociais, culturais ou religiosas. Assim é possível contribuir para melhorar a realidade. O grito das instituições é sintoma da falta de líderes, evidencia a presença de pessoas que ocupam cargos sem a competência necessária, seja técnica, humana ou espiritual. Indica também a necessidade de se tomar novas direções para promover mudanças e alcançar respostas capazes de evitar colapsos. Para suprir a carência social de bons líderes, é preciso também romper com a forte cultura do loteamento. Isso se conquista a partir do cultivo, particularmente no ambiente familiar e educativo, do gosto pela transparência, da coragem audaciosa no enfrentamento dos problemas, da habilidade para adotar um discurso direto e para agir nos parâmetros do altruísmo.
Os líderes e as instituições estão desafiados a considerar o contexto do mundo contemporâneo para romper com a ideia de que ainda há espaço para permanecerem estáticos. Tudo hoje funciona com outra velocidade. O que antes era menos complexo, mais controlável, lento e previsível, hoje é rápido, instável, imprevisível, altamente complexo e, com frequência, fora de controle. Por isso, deve-se respeitar e cultivar valores que alimentam discernimentos necessários para escolhas adequadas. A proximidade das situações, das pessoas e dos problemas, sem medo e sem pretensão de manipular, é caminho que gera a oportunidade para o intercâmbio na chamada sociedade do conhecimento. Um exercício importante, que promove mais adesão, participação e, consequentemente, contribuições significativas. Essa proximidade alimenta sistemas e processos com informações e inventividades, respeito a autonomias e interdependências que enriquecem ações transformadoras. É tempo de investir para se encontrar novas formas de liderar, substituindo posturas arcaicas pelas que, verdadeiramente, ajudem a construir novo momento. Isso começa a partir de diálogo sincero e direto, considerando a interpelação que vem do grito das instituições.