Corrupção, mal antigo
Por Dom Fernando Arêas Rifan, Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
A corrupção financeira, ou seja, o conseguir ilicitamente benefícios através do dinheiro e vice-versa, provém da ambição humana do poder. Pois o dinheiro traz poder. E o poder é o que atrai, seduz, pois, com ele, pensa-se, consegue-se tudo. Quanta gente, pelo dinheiro, por amor do cargo ou posição, pela sede de poder, trai sua consciência e acaba prevaricando!
Mas, sempre há condições, na maioria das vezes ilícitas, para se conseguir com facilidade, sem trabalho, dinheiro e poder. Não foi essa a tentação do Diabo a Jesus: “Tudo isso te darei (todos os reinos do mundo e a sua glória) se, prostrando-te diante de mim, me adorares” (Mt 4, 9)?
“Feliz o homem que não correu atrás do ouro, que não colocou sua esperança no dinheiro! Quem é esse para que o felicitemos?” (Eclo 31, 8-9). É a exclamação do livro do Eclesiástico. “Ninguém pode servir a dois senhores… Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24), nos ensina Jesus. Servir ao dinheiro significa transforma-lo em deus, com disposição de a ele tudo sacrificar: honra, consciência, virtude, o próximo, etc.
“Aqueles que ambicionam tornarem-se ricos caem nas armadilhas do demônio e em muitos desejos insensatos e nocivos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor do dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições” (I Tim 6,9-10), nos adverte São Paulo.
O exemplo clássico de ambição, de “servir ao dinheiro” foi Judas, que vendeu Jesus aos seus inimigos. Judas certamente não queria a morte de Jesus. Queria sim lucrar com sua entrega, com seu poder, vendendo-o aos inimigos, recebendo deles o dinheiro, pensando que Jesus iria deles se libertar, como já o fizera antes. O amor do dinheiro o cegou a ponto de não enxergar a loucura que estava praticando e levando-o depois ao desespero.
Outro exemplo de ambição do poder, ligado ao dinheiro, também ocorreu na Paixão de Cristo com Pilatos, o governador romano a quem competia julgar Jesus. Declarando por nove vezes sua inocência e tentando libertá-lo, sucumbiu ao terrível argumento dos inimigos de Jesus: a perda do cargo e, consequentemente, do dinheiro a ele inerente: se Pilatos libertasse Jesus, eles o acusariam perante César, e seu cargo correria perigo. Então Pilatos, contra a sua convicção, deixou-se vencer pela força do dinheiro e traiu sua consciência condenando Jesus, por ele proclamado inocente. Corrupto! Também corruptos foram os chefes dos sacerdotes quando deram propina aos guardas para que mentissem sobre a Ressurreição de Jesus (Mt 28,12-15).
Chamamos de corruptos os políticos, mas nos esquecemos de que corrupto é alguém que é corrompido por outro. Esse outro, que corrompe os políticos, acaba sendo o povo que o elege. Pois elegem por interesse, elegem aquele que os beneficia ou poderá beneficiar, votam quando vão lucrar alguma coisa. Então, só os políticos é que são corruptos ou é também o povo, nós mesmos, que os elegemos na base da corrupção?