O Papa responde mais uma vez a quem o acusa de “marxista”
Por Aleteia
O papa Francisco teve de se defender mais uma vez das acusações de ser “marxista”, motivadas pela sua preocupação com o aumento das desigualdades sociais e econômicas que estão contribuindo para piorar a cultura da morte.
Quando Francisco publicou a exortação apostólica “Evangelii Gaudium”, muitos comentaristas políticos o acusaram de ser marxista. Com base em quê? “O capitalismo desenfreado é uma nova tirania”, tinha denunciado o papa, que também pediu que os líderes mundiais combatessem a pobreza e a desigualdade crescente.
“Isto é puro marxismo saindo da boca do papa”, exclamou o comentarista norte-americano Rush Limbaugh, que tem um popular programa de rádio nos Estados Unidos. “Capitalismo desenfreado? Isso não existe em lugar nenhum. ‘Capitalismo desenfreado’ é uma expressão socialista liberal para descrever os Estados Unidos. Desenfreado, sem regulamentação”.
O papa já respondeu com toda a clareza a esse tipo de críticas, mas, em uma nova entrevista, ele voltou a dizer que a preocupação da Igreja com os pobres se situa na perspectiva do Evangelho e é um fato evidente desde os primeiros séculos da história cristã.
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Francisco esclareceu que o Evangelho não condena os ricos, mas sim a idolatria da riqueza, “a idolatria que torna as pessoas indiferentes ao apelo dos pobres”.
O papa reconheceu que a globalização vem ajudando muitas pessoas a sair da pobreza, mas que ela também “tem condenado muitos outros a morrer de fome. É verdade que a riqueza global está crescendo em termos absolutos, mas as desigualdades também estão crescendo e novas pobrezas estão surgindo”.
“O que eu tenho notado é que este sistema se sustenta numa cultura do descarte, que eu já discuti várias vezes. Existe a política, a sociologia e até a atitude do descarte. Quando é o dinheiro, em vez do homem, que está no centro do sistema, quando o dinheiro se torna um ídolo, os homens e as mulheres são reduzidos a simples instrumentos de um sistema social e econômico que se caracteriza, ou, pior ainda, é dominado por profundas desigualdades. Por isto se descarta qualquer coisa que não seja útil a esta lógica; é esta atitude que descarta crianças e idosos e que agora está afetando também os jovens”, disse o papa.
Francisco prosseguiu: “Eu gostaria ainda de destacar um aspecto da cultura do descarte: aquele que leva as pessoas a descartar bebês por meio do aborto. São chocantes, para mim, os baixos índices de natalidade na Itália. É assim que perdemos a nossa ligação com o futuro. A cultura do descarte também leva a uma ‘eutanásia disfarçada’ das pessoas mais velhas, que são abandonadas em vez de ser consideradas como nossa memória, como nossa ligação com o nosso próprio passado e como fonte de sabedoria para o presente”.
A entrevista foi feita em outubro como parte de um livro sobre a doutrina social da Igreja e sua aplicação durante o papado de Francisco. O livro é de Andrea Tornielli, diretor do suplemento “Vatican Insider” do jornal “La Stampa”, e de Giacomo Galeazzi, repórter especialmente dedicado a questões relacionadas com o Vaticano. O título do livro é “Papa Francesco – questa economia uccide” [“Papa Francisco – esta economia mata”].