Para Dom Leonardo, comunicadores precisam “olhar e ouvir mais Francisco”
Por CNBB
O bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Dom Leonardo Steiner abriu o VIII Encontro Nacional de Jornalistas das Arqui/Dioceses, Regionais, Pastorais e Organismos da CNBB, na sexta-feira, dia 11, falando sobre a figura do papa Francisco, após a visita da Presidência da entidade ao Vaticano, ocorrida entre os dias 4 e 10 de setembro. O jornalista Heraldo Pereira comentou com os profissionais reunidos em Brasília, no segundo dia do evento, sábado, 12, sobre a adequação de Francisco junto à mídia.
Ao recordar a visita ao papa, Dom Leonardo ressaltou que os profissionais precisam olhar e ouvir mais o pontífice. “Os gestos são falas. O gesto fala, o gesto diz, o olhar diz, o rosto diz, o rosto transmite, anuncia. E o papa Francisco é um homem que anuncia pela sua presença, pelo seu jeito de estar presente, de se deixar tocar, mas tocar também nas pessoas”, disse o bispo.
Dom Leonardo destacou a linguagem “direta e muito simples” de Francisco, “que consegue sempre colocar no centro a pessoa”, como na encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum, na qual o papa, segundo dom Leonardo, pretende dar atenção à preservação das relações.
Serviço
O secretário geral da CNBB falou aos 52 jornalistas de 16 estados brasileiros sobre o caráter de serviço intrínseco ao trabalho de assessores de imprensa e jornalistas que atuam nas arquidioceses, dioceses, regionais da CNBB, pastorais e organismos da Igreja no Brasil.
“O trabalho feito na Igreja é mais que um trabalho, é um serviço. Tudo aquilo que nós tentamos realizar, ajudar nas nossas organizações, nas nossas dioceses, nas nossas comunidades é um serviço que nós fazemos. É um trabalho, mas essencialmente é um serviço. Nós nos colocamos à serviço da comunidade, da diocese, porque participamos da vida da Igreja, fazemos repercutir a vida da Igreja”, sustentou.
“Essa repercussão da vida da Igreja e da grandeza do Evangelho é quase um ministério no qual nós anunciamos sempre o Evangelho. Somos homens e mulheres que ao narrarmos os fatos, ao descrevermos os fatos, ao apresentarmos os testemunhos, ao darmos notícia, nós estamos sempre de novo anunciando o Evangelho. Porque a Igreja existe por causa do Evangelho”, disse dom Leonardo.
Conferências
As primeiras conferências do VIII Encontro Nacional de Jornalistas das Arqui/Dioceses, Regionais, Pastorais e Organismos da CNBB aconteceram no sábado, dia 12. Na ocasião foram apresentados os temas “Os desafios da assessoria de imprensa no atual quadro de comunicação”, pelo radialista e jornalista da Rede Globo, Heraldo Pereira, que também é advogado com especialização em Direito Público; e “O jornalismo em tempos de mudanças estruturais”, pelo jornalista e doutor em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), Fábio Henrique Pereira.
Comunicação Corporativa
Heraldo Pereira partiu do contexto da comunicação corporativa, no qual a Igreja se insere como emissora da mensagem e a sociedade como receptora. Os assessores de comunicação e imprensa e os jornalistas que atuam em âmbito eclesial, de acordo com o palestrante, são os agentes que “organizam a comunicação deste corpo que é a Igreja”.
A comunicação, neste sentido, seria a ferramenta para a densidade política da instituição. “A comunicação social é fundamental para o corpo (organismo, instituição…) porque ela dá densidade política, não político-partidária. Como se diz lá no interior de São Paulo, de onde eu venho, ela dá ‘sustância’, a força que um corpo precisa para ser reconhecido como importante, fundamental, com significação”, explicou.
Heraldo destacou o risco de a responsabilidade relacionada ao processo de comunicação da organização levar à “vaidade e à perca do foco”.
Mídia
Heraldo apontou três conceitos sobre a mídia: a formal, que corresponde às empresas de comunicação, como jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão; a mídia formal potencializada, que é a encontrada na internet; e a comunicação informal, encontrada nas relações interpessoais, inclusive nas redes sociais na internet. “As pessoas são terríveis nessa comunicação e é com essa que vocês vão tratar muito”, relatou, lembrando de casos de racismo sofrido por ele e pela jornalista Maria Júlia Coutinho, ambos no Jornal Nacional, em postagens na rede mundial de computadores.
A mídia formal, em suma, tem compromisso com a opinião pública e está inserida em um contexto de competição entre as empresas e de disputa pelo espaço publicitário, dessa forma “não tem compromisso com a Igreja Católica”, salientou Heraldo. O palestrante também destacou que as diferentes mídias comunicam entre si, e que esse contato pode se dar “a partir de interesses segmentados” que até podem ser contra a instituição.
Neste contexto, Heraldo orientou que deve ser constituída uma política de comunicação pelas instituições eclesiais. Os assessorados devem ser preparados para não terem medo das perguntas dos jornalistas e os assessores devem trabalhar para evitar as crises de comunicação. “Vocês têm que construir, reconstruir, edificar, solidificar a política de comunicação social da Igreja Católica no Brasil e de tudo que é influência da Igreja Católica no Brasil, porque essa comunicação é muito importante”, alertou.
Contexto atual do jornalismo
O professor Fábio Henrique Pereira falou sobre os encaminhamentos de uma pesquisa relacionada às transformações pelas quais passa o jornalismo atualmente. Fábio estuda, desde 2010, a sociologia dos jornalistas e questões de identidade como, por exemplo, quem é e como se torna o profissional. Também expôs dados preliminares de uma investigação sobre as mudanças nas carreiras jornalísticas.
O estudo é realizada com um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília sobre mudanças estruturais. “A gente tinha as mesmas inquietações que eu imagino que vocês como jornalistas têm no sentido de que a gente parece que está vivendo num momento de indefinição do jornalismo”, explicou.
O professor fez uma relação do cenário do jornalismo no Brasil e no mundo, onde acontece uma crise das empresas jornalísticas, além de mudanças nas formas de produção e apresentação da notícia. Fábio também abordou questões de estabilidade dos profissionais, a formação e o acesso à profissão.
Mudanças
O professor alertou para os casos de mudanças pontuais, quando há rearranjo nas práticas da profissão e que “alteram o jornalismo, mas não modificam sua estrutura”, e os casos de mudanças estruturais, chamadas de ‘paradigmáticas’, quando há mudança nos envolvidos no processo, como os jornalistas, as fontes, o público, os empresários e anunciantes.
O livro “Mudanças e permanências do jornalismo” (Editora Insular), iniciativa do programa de Pós-Graduação em Comunicação da UnB e que tem como um dos autores o professor Fábio Pereira, aborda a temática apresentada, a partir de vários projetos de pesquisa da instituição de ensino. “O que a gente percebeu é que o jornalismo não só muda, mas que existe a permanência, na verdade, de práticas que historicamente são consolidadas e que muitas coisas que parecem mudanças profundas do jornalismo são muito mais adaptações de coisas que já existiam há algum tempo”, explicou.
À tarde, o jornalista Maurício Júnior, sócio da Agência de Comunicação Santafé, falou sobre cenário, tendências, desafios, planejamento da assessoria de imprensa. De acordo com o jornalista, a assessoria de imprensa é apenas uma parte da comunicação integrada, que deve ser realizada para o sucesso da organização.
“O primeiro passo para uma assessoria é que seu assessorado reconheça a importância do trabalho. Ele deve saber que a comunicação está ligada à imagem da entidade, ao posicionamento dela no mercado e na sociedade”, explicou.
Sobre uma das fortes tendências, as mídias sociais, Maurício reforçou que é importante que a empresa tome para si o protagonismo de contar a sua história nas redes sociais. “Se ela não tiver um perfil e contar a sua história, pode ter certeza que outro estará falando por ela. Por isso é importante assumir esse protagonismo, mostrar o seu lado, ser transparente e falar por si”, disse.
Desafios
Além de incorporar as novas mídias, o jornalista indicou que outro desafio é estar próximo ao seu assessorado, criando uma “relação de confiança, para o aconselhar, ser quem ele procura no momento de crise”.
Investir na credibilidade, planejar estratégias, conseguir realizar o trabalho com equipes cada vez menores são outras tendências desafiadoras com as quais o profissional deve lidar.
Planejamento de comunicação
Maurício insistiu na necessidade de um planejamento para tudo que envolve a comunicação. Segundo ele, esse planejamento deve começar com um conceito-chave, que mostre o objetivo e norteie as ações de todos os públicos da entidade. Em seguida, subtemas podem ser trabalhados para a construção de uma imagem.
Segundo o jornalista, a mensuração das ações da assessoria é uma parte delicada do processo, por envolver bens simbólicos e intangíveis, em que as consequências não são simplesmente medidas em números. “Se o cliente não entende o trabalho do assessor, a importância, ele não vê ou entende os resultados disso”, voltou a dizer.
Como sugestão de mensuração, o jornalista indicou uma abordagem qualitativa, que leve em consideração critérios subjetivos de cada matéria como, por exemplo, se o veículo é de âmbito nacional ou local, qual o contexto do assunto, a relação entre o que foi abordado na notícia e o que foi sugerido na pauta do assessor, o público do veículo e o autor da matéria.